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sexta-feira, novembro 12, 2004

Ontem, fui ao cinema. Fui ver o novo filme da realizadora Agnès Jaoui, Comme une Image. Mais uma vez fiquei maravilhado, como outrora fiquei com Le Goût des Autres. As relações pessoais e familiares estavam novamente em plano. Aquelas relações que parece que vão descambar, mas que se aguentam sempre. Aquelas relações que deixam coisas por dizer, mas que se assim não fossem retratadas jamais teriam o toque sublime que ostentam. Aquelas relações que nos irritam e que nos deixam entaladas uma quantidade de frases que gostaríamos de dizer e de ver ditas. Porém, saí do cinema em paz e com a consciência que a mensagem do filme tinha atingido o seu objectivo. Independentemente de ter gostado de assistir a um outro final, de ver arrependimentos e pedidos de desculpa, de ver maior inflamação nos personagens... Mas para quê? Os valores e os juízos já lá estão ainda que subliminares.

Antes de ir ao cinema, comprei dois álbuns: The Best of Echo & The Bunnymen e Songs The Lord Taught Us. O primeiro, como o próprio nome diz, é dos Echo & The Bunnymen e o segundo dos The Cramps. À noite escutei o álbum dos Echo, enquanto lia uma BD do Corto Maltese. Fiquei arrepiado! A cadência da música e da voz em temas como o Killing Moon ou o Lips like Sugar conseguiu-me transportar para os anos 80 e para aquela dormência frenética que foi o movimento Vanguarda. O turbilhão de ideias e de comentários em tertúlias mil, abraçado pela música amodorrada que tão bem caracterizava os Echo, os Cure, entre outros.

Antes de me deitar assisti a um outro filme, The Deer Hunter, do Michael Cimino. Na primeira vez que passou na RTP, os meus pais não me deixaram vê-lo. Assisti a um pouco através do buraco da fechadura da porta da sala. Era miúdo e tinha curiosidade. O filme tinha bolinha no canto superior da televisão e era passível de poder impressionar os mais sensíveis. Falava-se de roleta russa, de sangue, de guerra, de ratazanas e eu acabei por criar um filme na minha cabeça, ao qual já estava habituado. Um quadro holocaustico! Ontem, contudo, acedi vê-lo. Tinha-o na prateleira há meses, mas sempre me escusei a colocá-lo no DVD. No fundo, tinha receio do que iria ver. Tinha medo de destruir uma ilusão criada em menino. Ontem, enchi-me de coragem e quis destruir essa ideia pré-concebida que existia em mim, de um filme que nunca tinha visto. Quis confrontar-me com a visão aterradora que os meus pais me tinham tão bem vendido. E uma coisa vos garanto, valeu a pena desmistificá-lo. O filme é muito bom, não é aterrador, mas sim corajoso e emocionante. Porque fala de muito mais coisas que a guerra e o ódio ou as ratazanas... Fala de pessoas, relações, sentimentos... Fala de nós.

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