<$BlogRSDUrl$>

quinta-feira, novembro 25, 2004

Acabei de abrir a minha rádio - Ground Control - no Cotonete. A música teve início com o tema "From the Hip" de Lloyd Cole & The Commotions. Vibrei ao reaver este tema na memória. Os nostálgicos anos 80 e mais uma vez a Vanguarda, marcaram uma geração de descamisados que deambulavam por entre a rebeldia e a necessidade de expressar novos ideais e formas de expressão. Lembro-me que foi por essa altura que vi um filme, Less Than Zero, do Marek Kanievska, onde perfilavam dois temas musicais magníficos. Um das Bangles e outro dos Echo & The Bunnymen. Um deles seguiu-se a Lloyd Cole: Hazy Shade of Winter das Bangles. Simplesmente electrizante! Entretanto, a rádio não parou e presenteou-me com mais três músicas que giraram na minha aparelhagem de som durante algum tempo: Stigmata Martyr, dos Bauhaus; Step On, dos Happy Mondays; e So Alive, dos Love and Rockets. Bandas estas mal-amadas, que conseguiram com sucesso delimitar território num mundo musical mainstream pejado de enlatados. As bandas imediatas foram os Inspiral Carpets, o Jon Spencer Blues Explosion e outros tantos, tão bons. Realmente ouvir uma rádio criada por nós dá uma tesão do outro mundo. Obrigado Iol! Obrigado Cotonete!

sábado, novembro 13, 2004

Esta semana, durante duas longas noites, revi uma série que havia visto anos atrás: I, Claudius. Baseada num romance de Robert Graves, relata-nos a vida e os interesses de Roma e da família imperial. Tem início com o imperador Augusto, passando por Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. A narrativa é magnífica, embora maquiavélica. Os interesses políticos, os conflitos de poder, o amoralismo, são notórios nesta série. A forma como Lívia, a mulher de Augusto, se consegue "desfazer" de todos os futuros pretendentes ao trono - leiam-se familiares, inclusive um dos próprios filhos (Drusso) - para se manter no poder ao lado de Augusto e mais tarde de Tibério, seu primogénito, é digno de Maquiavel. No fundo, temos aqui um excelente exemplo de "real politik" que deveria ser obrigatório em aulas de Relações Internacionais. A não perder!

sexta-feira, novembro 12, 2004

Ontem, fui ao cinema. Fui ver o novo filme da realizadora Agnès Jaoui, Comme une Image. Mais uma vez fiquei maravilhado, como outrora fiquei com Le Goût des Autres. As relações pessoais e familiares estavam novamente em plano. Aquelas relações que parece que vão descambar, mas que se aguentam sempre. Aquelas relações que deixam coisas por dizer, mas que se assim não fossem retratadas jamais teriam o toque sublime que ostentam. Aquelas relações que nos irritam e que nos deixam entaladas uma quantidade de frases que gostaríamos de dizer e de ver ditas. Porém, saí do cinema em paz e com a consciência que a mensagem do filme tinha atingido o seu objectivo. Independentemente de ter gostado de assistir a um outro final, de ver arrependimentos e pedidos de desculpa, de ver maior inflamação nos personagens... Mas para quê? Os valores e os juízos já lá estão ainda que subliminares.

Antes de ir ao cinema, comprei dois álbuns: The Best of Echo & The Bunnymen e Songs The Lord Taught Us. O primeiro, como o próprio nome diz, é dos Echo & The Bunnymen e o segundo dos The Cramps. À noite escutei o álbum dos Echo, enquanto lia uma BD do Corto Maltese. Fiquei arrepiado! A cadência da música e da voz em temas como o Killing Moon ou o Lips like Sugar conseguiu-me transportar para os anos 80 e para aquela dormência frenética que foi o movimento Vanguarda. O turbilhão de ideias e de comentários em tertúlias mil, abraçado pela música amodorrada que tão bem caracterizava os Echo, os Cure, entre outros.

Antes de me deitar assisti a um outro filme, The Deer Hunter, do Michael Cimino. Na primeira vez que passou na RTP, os meus pais não me deixaram vê-lo. Assisti a um pouco através do buraco da fechadura da porta da sala. Era miúdo e tinha curiosidade. O filme tinha bolinha no canto superior da televisão e era passível de poder impressionar os mais sensíveis. Falava-se de roleta russa, de sangue, de guerra, de ratazanas e eu acabei por criar um filme na minha cabeça, ao qual já estava habituado. Um quadro holocaustico! Ontem, contudo, acedi vê-lo. Tinha-o na prateleira há meses, mas sempre me escusei a colocá-lo no DVD. No fundo, tinha receio do que iria ver. Tinha medo de destruir uma ilusão criada em menino. Ontem, enchi-me de coragem e quis destruir essa ideia pré-concebida que existia em mim, de um filme que nunca tinha visto. Quis confrontar-me com a visão aterradora que os meus pais me tinham tão bem vendido. E uma coisa vos garanto, valeu a pena desmistificá-lo. O filme é muito bom, não é aterrador, mas sim corajoso e emocionante. Porque fala de muito mais coisas que a guerra e o ódio ou as ratazanas... Fala de pessoas, relações, sentimentos... Fala de nós.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?