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sexta-feira, janeiro 23, 2004

Cartas

Há coisas que têm que ser partilhadas pela graça que têm.
Esta é uma delas. São dois e-mails trocados por dois amigos, cujos nomes foram alterados.

«Invejosa!!!!!!! - Despacho 1/VGM1.2004

Hugo Ricardo...

Que sono me dão os teus mails ãããã!!!!!! Mesmo curtos, são aborrecidos e totalmente desprovidos de interesse! Mas, nasceste com sorte e consegui incluir-te nas minhas horas semanais de solidariedade. Por isso te respondo, conforme despacho supra-citado.
Após uma longa reflexão sobre o facto de me teres chamado vaca de merda, concluí que é um elogio. Obrigado, amigo! Sendo tu a mulher do casal, sabes com certeza que vaca de merda é o nome que nós entre as mulheres chamamos à gaja boa que passa e que todos os homens viram as cabeças para olhar (as cabeças...).
Além de um colega me ter dito que eu fiz 25 anos (e não 31), este é o melhor elogio deste ano. Quanto à palavra merda, dizemos merda para tanta coisa, que não tem significado.
Tens o condão de me tentar irritar. Continuas ofendido por não teres vindo à reunião da Tupperware e qualquer coisinha te serve para me ofender ou pelo menos tentar. Já te pedi desculpa tantas vezes!! Fazemos assim, a próxima vez escolhes o mesmo prato que eu e ficamos juntos na troca de casais, OK? Desta vez leva tu as ligas.
Já viste que estou cheia de tempo para responder a todos?
Já reparaste que a minha semana de trabalho já acabou?
E tu? Pois é.... Cada um tem o que merece... Ter empregosinhos de merda, tem que ter alguma vantagem (Cá está mais uma vez o uso da dita palavrinha)...
Bjs e responde

PS - Cumprimentos ao esposo.

Por assim ser, lavro e assino o respectivo despacho.

Varge Mondar

23/01/2004

Clara».


A resposta do Hugo foi a seguinte:

«Exma. Sra. Dra. Clara Qualquer Coisa,

Venho por este meio responder ao despacho infeliz de V. Exa. que me deixou agoniado com tamanha pequenez e pobreza de espírito.
Aproveito para informar V. Exa. que depois de ter tomado um comprimido para os vómitos, encontro-me disposto para responder ao seu “despacho” (há, há).
Sendo assim, gostaria de esclarecê-la que eu, Dr. Hugo Ricardo, sou a mulher do casal semana sim, semana não. Quanto aos conceitos “vaca de merda” e “cabra” reparo que não os entendeu da melhor forma. Passo a explicar: Estas palavras são a forma mais simpática que eu consigo chamar-lhe, porque a minha educação sueca não me permite dizer as atrocidades que me passam pela cabeça. Coisas de príncipes que V. Exa. jamais irá entender, viva 200 anos.
No que respeita ao seu colega ter-lhe dito que V. Exa. fazia 25 anos, parece-me ser a anedota do ano. Imagino que, entretanto, já tenha saído nas Selecções do Readers Digest. O rapaz ou tem cataratas nos olhos ou é um bajulador insuportável que apenas quer manter o seu posto de trabalho com medo de represálias da parte de V. Exa.
Gostaria também de esclarecê-la que é V. Exa. que tem o condão de me enervar e de me atirar para os limites metafísicos da tolerância e da compreensão. Acredite que por vezes fico cego de raiva. A sua voz de tainha fora de água levam-me até à exaustão suprema.
Quanto a reuniões Tupperware, agradecia que entrasse em contacto com o meu marido, para que ele lhe possa encher a boca de murros. Eu recuso-me a tocar em V. Exa., porque o seu cheiro a gordura dos hamburgers causa-me náuseas.
No que concerne a swings, volto a repetir-lhe que os últimos causaram-lhe graves contorções devido ao meu vasto conhecimento do Kamasutra. E ligas é coisa de putas. Não entro em jogos escabrosos, pois sou um senhor.
Por fim, o meu trabalho é tão maravilhoso que até me permite chegar às horas que bem entendo. Gosto de trabalhar para poder partilhar o meu difuso know how às gerações vindouras, coisa que vejo não lhe diz nada.
E é tudo, por agora. Agradeço o convite de V. Exa. para o seu jantarzinho de aniversário e lá estarei para que alguém possa brilhar na festinha.
Os seus cumprimentos serão entregues ao meu esposo maravilhoso e cintilante, embora tenha a certeza que ele os vá ignorar.
Beijos grandes e fofos.
Um abraço para o meu amigo, seu esposo, cuja sanidade mental continuo a pôr em causa.
Atentamente,
Hugo Ricardo».

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